top of page
Buscar
Foto do escritorCOMPRE PELA CAPA

PERSONALIDADES CRUZADAS EM NÚMERO 44, DE JULIA GIAROLA ANDRADE

Atualizado: 3 de mai. de 2020



Título: Número 44 Autor: ANDRADE, Julia Giarola Gênero: Distopia

Editora: Rouxinol Páginas: 156

Ano: 2017

Onde Comprar: Rouxinol

Esta linda obra distópica foi concedida pela autora Julia Giarola Andrade através da parceria com o Blog Compre Pela Capa. Agradecemos muito pela confiança no nosso trabalho antes de mesmo da publicação do livro e pela paciência no aguardo da resenha.

ENREDO

Por julgar não ter nada a perder e ver nos anúncios a oportunidade de ter uma Nova Vida, o até então não nomeado personagem procurou a Instituição Experimental, cuja é responsável, para se voluntariar aos testes que lhe proporcionariam a mudança que esperava.

Posteriormente a assinatura do contrato, o qual ao menos se deu ao trabalho de ler, as atividades foram postas em prática, passando a ser apenas um indivíduo: Número 44. Fora levado a uma sala – um local cheio de voluntários, uns calouros, outros veteranos, onde conhecera quem seria seu único amigo lá dentro, o 36 – por Eles, os homens de branco, que deram prosseguimento ao protocolo do programa.

Neste confinamento, os procedimentos eram expostos detalhadamente aos participantes, a fim de deixar o indivíduo ciente das etapas as quais seriam submetidos. Neste caso, eram três: a primeira, chamada Nascimento, consistia em construir e modelar a pessoa, em outras palavras, prepará-la esteticamente com as características físicas que necessitassem, através de um cirurgião plástico. A segunda etapa, a Programação, era a mais complicada, pois tinha a função de embutir em cada voluntário, memórias e sentimentos da pessoa que elas iam usurpar, para serem elas perfeitamente em ações, e por último, a Experiência, que tratava de ambientar essa “nova pessoa” em seu próprio cotidiano e confrontá-la com algo ruim que cometeu. Vale salientar que a Instituição deixara claro que a única forma de se libertar e conseguir a tão esperada Nova Vida era passando pelo teste, o qual era submetido após a terceira etapa.

Como estreia, 44 passou pelas etapas e teve um pouco de dificuldade para assimilar a segunda, já que era iniciante e ter tantas informações e emoções somadas as suas o deixou atordoado, mas seguiu em frente para sua primeira simulação.

A primeira pessoa que assumiu foi Daniel, uma analista de sistema que vivia uma vida regrada a rotinas, sozinho em um apartamento, sem amigos, que comia sempre na mesma lanchonete e sentava no mesmo lugar, até que um dia, uma moça, Laura, bagunçou seu paradoxo e ele passou a tê-la como o mais próximo de afeto, algo que ele jamais tivera. Esta relação ia bem até tornar-se um romance obsessivo, onde o próximo a desejava tanto, que fantasiava tê-la parte a parte para saber o que ela sentia. Durante uma discussão, Laura decidiu que deveria ir embora e num surto por medo de perdê-la, a matou com uma facada no abdome. Neste momento a simulação encerrou e Eles estraram para retirá-lo. Foi então levado a uma sala onde o “Doutor” o aguardava com um livro, cuja capa levava seu número e o respectivo nome da última pessoa que viveu, onde dentro dele toda a história passada anteriormente estava escrita e ele tinha a possibilidade de mudá-la, portanto, esse era o teste. Um lápis e uma borracha foram entregues a ele e o mesmo alterou o final e como consequência, o botão com uma luz vermelha acendeu: ele estava reprovado! Em suma, o ciclo se repetiria.

Mais histórias, mais personalidades são vividas por 44, entre elas, a de Samuel, jovem que perdeu sua mãe muito novo, vítima de câncer, que agora estava casado, porém ele e a esposa eram infelizes no relacionamento, até que a mesma decidiu dar um tempo. Em meio a esse conflito, recebeu a ligação de um homem, do qual sua nova memória associou imediatamente, era seu amante, aquele com quem há anos vivia uma vida dupla, e ele tinha uma importante decisão a tomar. Também teve a de um garoto que tinha um irmão mais velho, apático, com o qual tentava manter uma relação amigável e um erro podia colocar a relação em choque.

A cada reprovação, uma nova pessoa era programada e a cada recomeço, 44 ia mudando sua concepção à respeito do programa e enfim tomou a decisão de deixar tudo acontecer naturalmente, sem influenciar, para tentar finalmente se libertar, com ou sem sua almejada Nova Vida.

OPINIÃO

Uma escritora nova, com uma escrita impecável, nos apresenta esta distopia a nível Black Mirror, com personagens sólidos, boa fluência do texto, histórias bem amarradas, com começo, meio e fim, deixando claro que cada "pessoa" que ele incorporava eram comuns, que choravam, sofriam, eram felizes, enfim, tinham todos os conflitos que encontramos diariamente, e o mais legal, todos com enredos totalmente diferentes. O Instituto na história faz o papel de um juiz ou um psicólogo que observa as atitudes dos voluntários, para tentar entender o que se passa na mentalidade humana diante de uma atitude mal tomada. Por outro lado, o Instituto pode ser um Sistema, ou pode-se dizer, um Governo que manipula o que devemos ou não fazer, afinal de contas: deveríamos ter o poder de mudar algo que erramos ou deveríamos assumi-los, arcar com as consequências e aprender com eles? Mostra também a inconsequência, através do 44, que quer ganhar uma vida fácil e acaba por se arrepender. A amizade também é explorada, mesmo que sutil, sendo que 36 é a única pessoa a quem ele se apega e se importa. O fato de a autora não dar o real nome do personagem, nem descrever a vida anterior ao programa, achei super tentador, pois induz o leitor a interpretar como quiser, até mesmo deixando margem para uma sequência.

A Editora fez um ótimo trabalho gráfico, com uma capa maravilhosa – aliás, parabéns ao Marcus Pallas, que é um ótimo capista – que condiz exatamente com o enredo do livro. Possui as folhas amarelas, que são na minha opinião, as mais indicadas para leitura. Tipografia do corpo do livro tem um tamanho confortável, com uma ótima legibilidade e leiturabilidade.

Um livro em si já tem a função de nos levar a lugares inimagináveis, mas as histórias com cunho futurista sempre me encantam, pois deixa a possibilidade de imaginar uma tecnologia ainda inatingida, mas não impossível de existir. Acho que é uma obra cheio de significados. Recomendo: SIM ou ÓBVIO?

60 visualizações0 comentário
bottom of page